Visitas

Flag Counter

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A MAÇONARIA NÃO É FEITA À MEDIDA DAS ILUSÕES DO NEÓFITO

Depois de merecido descanso vemos que o recesso maçônico transcorreu sem qualquer percalço. Um novo ano se inicia trazendo enormes desafios, traduzidos na necessidade de permanecermos unidos e focados na defesa das tradições maçônicas. Para começarmos bem nossa tarefa, vamos nos entregar à leitura e reflexão desse belíssimo trabalho realizado pelo nosso Irmão Milo Bazaga.

Conta-se que perguntaram a Pitágoras, após ter sido iniciado nos Mistérios, o que tinha visto no Templo, tendo ele respondido - simplesmente: NADA.
Porém Pitágoras era Pitágoras. Se ao sair do Templo egípcio não tinha visto "nada", não se limitou a sair decepcionado, senão buscando a origem deste "nada"; saiu buscando a origem deste "nada"; e descobriu que era em si mesmo que não tinha visto "nada mais", que desejos e ilusões.
Foi então que começou seu caminho para a sabedoria.
Muitos Irmãos recém-iniciados se afastam da Ordem porque em suas Lojas não encontram nada, porque na Maçonaria não se faz "nada"; outros se queixam de que nas Lojas se fala muito de simbolismo e nada mais; que a Maçonaria é uma Instituição para se fazer amigos e nada mais; que só comparecem aos trabalhos das Lojas para perder tempo e nada mais.
Propomos perguntar-nos: o que significa este "nada" em relação à Maçonaria?
Fulano não vai mais à sua Loja porque não encontrou nada... E como é que não encontrou nada? Não encontrou o Templo com seu altar, os móveis, as colunas e a decoração? Não encontrou os Irmãos reunidos na Loja? E como é que diz que não encontrou nada e que o simbolismo não significa nada?
Encontrou então pelo menos o simbolismo? E como é que pode dizer que na Maçonaria não se faz nada e na Loja se fala muito e nada mais? Então se faz algo, ainda que seja nada mais que falar....
Parece que o nada que se encontra na Maçonaria não deve ser tomado ao pé da letra.
O neófito que entra no Templo encontra algo, porém não encontra o que busca; isto dá margem a várias perguntas o "que busca" o profano que solicita ser iniciado? O que a Maçonaria não pode oferecer? O que a Maçonaria pode oferecer? O que encontra o neófito ao dizer que não tem nada?
Procuramos responder estas perguntas de um ponto de vista estritamente pessoal.
O QUE BUSCA O INICIADO?
Pode solicitar seu ingresso por vários motivos, desde o mais grosseiro materialismo, o desejo de encontrar protetores para seus negócios de qualquer espécie, até o motivo do mais elevado sentimento de humanismo.
Em regra geral, é mistura de tudo, acrescido de curiosidade; e frequentemente haverá um sentimento da própria imperfeição acrescido do desejo de melhorar-se e aperfeiçoar-se.
Não é raro também que se espere encontrar na Maçonaria um estímulo à ação pra compensar a própria falta de atividade; ideias extraordinárias e originais que ponham em funcionamento o pensamento e a imaginação própria.
É um dos problemas da Maçonaria que, pelo segredo e discrição que devem guardar seus integrantes, o profano chega geralmente as nossas portas desconhecendo realmente o que o espera, vindo em contrapartida cheio de esperança e ilusões que vão do inadequado ao absurdo.
O QUE NA MAÇONARIA "NÃO PODE OFERECER"?
A Maçonaria não é feita à medida das ilusões do neófito.
Se este procurou uma renovação completa de sua personalidade por meio de um remédio amostra grátis e que se oferece a todo aquele que entra na Ordem, equivocou-se.
Damos-lhe a luz, as ferramentas para trabalhar, mostramos-lhe a pedra bruta e o modo de trabalhar nela. O resto é assunto do neófito.
Tem que trabalhar para receber o seu salário e este lhe é dado segundo a quantidade e a qualidade do seu trabalho. Não pode exigir que se lhe de tudo de uma só vez, sem fazer o menor esforço.
Então acontece que o neófito não acha o que buscava.
Ele buscava um meio cômodo para tornar sua vida mais fácil e agradável, para sentir-se importante sem esforço algum, para viver em paz consigo mesmo.
E como não acha o que buscava, diz simplesmente:
Não encontrei nada.
Com isto expressa que tudo o mais que encontra não tem importância para ele; e que, aquilo que não encontra é o que ele queria e nada mais.
Dizer que a Maçonaria não faz nada é outra maneira de se revelar, que se quer conseguir satisfações de amor próprio a baixo custo.
Se na Maçonaria estivesse se cristalizando uma obra de autêntico humanismo, poderíamos participar da glória da sua realização sem que tivéssemos o trabalho de planejar e organizar sua execução.
Se a Maçonaria fosse aquilo que querem os que se queixam de não encontrar nada nela, ela seria idêntica às sociedades múltiplas de beneficência e clubes de serviço, cujos principais objetivos parecem ser que seus membros apareçam na imprensa escrita, falada e televisionada a qualquer pretexto.
Todas estas satisfações de amor próprio, todas estas ilusões e esperanças vazias, é o que a Maçonaria não oferece.
Por isso é que aqueles que buscam isso, não encontram "nada".
O QUE A MAÇONARIA PODE OFERECER?
Do ponto de vista das pessoas mencionadas anteriormente, nada, pois para eles o trabalho, o estudo, não são nada, e se não tiverem a paciência necessária se afastarão.
Quanto mais irreais, fantásticas, foram suas esperanças, mais necessitarão para encontrar o que oferece a Maçonaria, e que são: trabalho, ferramentas para executá-lo, o salário que somente se obtêm trabalhando.
O neófito têm que aprender que na Maçonaria não encontrará satisfação alguma senão em razão de seu próprio trabalho.
Através de seu aprendizado se dará conta de que se a Maçonaria lhe der, sem sacrifício, as satisfações que estava procurando, então, sim, poderá dizer que não é nada.
O que acontece é que o homem moderno tem do trabalho um conceito muito diferente do que tinham as corporações de construtores da antiguidade.
Para a maioria, hoje, o trabalho é escravidão, atividade mecânica, impessoal, algo que se faz porque se tem que viver e comer, e sem trabalho não há comida; algo que se faz sem grande satisfação, esperando que o relógio marque a hora da saída.
Daí, então, partimos para o descanso, a diversão, as comodidades.
São poucos aos quais a sorte reservou um trabalho construtivo e menos ainda, existem pessoas capazes de buscar e achar o descanso em uma atividade criadora.
O construtor medieval não se preocupava em apressar o tempo para terminar a catedral, mas sim se detinha nos detalhes da construção, acrescentando uma grande variedade de enfeites e esculturas para a arquitetura, simplesmente porque sentia o gosto de criar algo de belo e bonito.
Nós já não compreendemos mais facilmente este prazer pelo trabalho. Queremos que o trabalho termine o mais depressa possível, para que possamos nos dedicar a outras atividades nas quais encontramos mais prazer.
Necessitamos voltar a descobrir que a vocação artística do homem - a única que lhe dá plena satisfação - não é apêndice pensante da máquina, e sim a de procurar realizar um trabalho criador.
O QUE ENCONTRA O NEÓFITO AO DIZER QUE NÃO TEM NADA?
Bate à porta do templo, se abre a mesma para ele e não encontra nada. Para ele, o que é este "Nada"?
Já dissemos tomar a palavra em sentido estrito é um absurdo. Algo ele encontra e, se nós o pressionamos um pouco, ele nos dirá: Não há nada, somente palavras, somente ritualística, somente símbolos, somente ideias antiquadas.
Algo, portanto encontra, porém não o que buscava. E como o que ele encontra não é nada em comparação com o que ele buscava, diz simplesmente que não há nada.
Porém, este nada não é somente um fenômeno negativo. Este nada é como um gérmen, algo novo e grande.
O Irmão que se afasta da Loja queixando-se de não haver encontrado nada, não se limita somente a isto. Afasta-se desgostoso, decepcionado.
O encontro com o nada o afetou no mais profundo do seu ser.
Não achou o que buscava, porém, achou precisamente seu próprio desgosto, sua própria decepção.
Ainda que se vá de nosso convívio, sua decepção o segue. E ainda que não o confesse, não deixará de pensar, de vez em quando, que para encontrar algo, se necessitam duas coisas: algo que exista e alguém que saiba procurar.
Ao lado do seu orgulho, porque ele não se deixou enganar, estará a constante inquietude acerca do que terão encontrado os que ficaram, e que ele não soube encontrar.
Se vê, assim, posto frente a frente, com sua própria insuficiência. Com seu próprio NADA.
Se for sincero consigo mesmo reconhecerá que onde não encontrou nada foi em si mesmo.
Este é o ponto onde começa a germinar a ideia maçônica.
Se o Irmão chegar a este ponto.