Trabalho apresentado pelo Ir.’. Augusto Cézar Silva
Costa, M.’. M.’. Cad. GLEPA 10728, por ocasião das
comemorações do Jubileu de Prata alusivo aos 25 anos
de Fundação da Loja Maçônica Estrela do Xingu nº. 69,
ocorridas no dia 09 de junho de 2017, em São Félix do
Xingu – PA.
Meu Venerável Mestre, estimado irmão Antônio Roberto; Iminente Grão-Mestre
Adjunto Irmão Edílson Araújo; demais autoridades Maçônicas e Maçons
presentes; cunhadas e sobrinhos DeMolay’s; estimados amigos que hoje
visitam a nossa Estrela do Xingu!
Coube a mim, Mestre Edílson Araújo, a nobre e prazerosa missão de contar
brevemente e em poucos minutos a bela história do nosso São Félix da Boca
do Rio, e como sempre bem diz nosso Orador Lázaro Basílio: “desta terra
encravada na rama da PA279”. E não poderíamos começar de outro lugar,
Prefeita Minervina, senão falando do nosso misterioso e ainda vivo e
presente encontro das águas dos Rios Xingu e Fresco... de um lado o nosso
Xingu de águas quentes e profundas, e com suas exuberantes paisagens
naturais e lindas cachoeiras... do outro lado o nosso sofrido, e por esse
mesmo motivo, forte e combativo Rio Fresco, das diversas espécies de peixes
de água doce e de seu enorme potencial mineral... esse encontro, Senhores,
trata-se de uma paisagem que felizmente ainda faz parte do nosso dia a dia,
mas que está sob ameaça, pela ação insana, degradante e capitalista do homem
branco, que insiste em explorar desordenadamente suas riquezas.
Este mesmo cenário, meus amigos, traz a história de um povo de migrantes,
que de luta em luta, ora fugindo ora resistindo, construiu sua história
baseada em muito esforço, determinação e força de vontade. E o resultado
desta brava história é o nosso hoje São Félix do Xingu. Xingu, Mestre
Pascoal, nome indígena, que em sua etimologia retirada do Dicionário Tupi Guarani,
nos revela uma grata surpresa: Xingu, meus amigos, significa a
“Casa de Deus”. E é exatamente nesta “Casa de Deus” onde a grande
maioria de nós aqui presentes, escolhemos para construir nossas famílias,
constituir nossas empresas e empreendimentos e gerar e criar nossos queridos
e amados filhos.
São Félix do Xingu! Há poucas décadas ainda era uma pequena vila perdida
nas selvas, lá onde o Rio Fresco encontra as águas verdes do majestoso
Xingu, desconhecida do mundo e esquecida pelo Brasil, quando
melancolicamente findou a tão badalada época áurea da exploração da
borracha. São Félix do Xingu viveu nos últimos anos uma transformação jamais
imaginada, e de braços e de coração abertos, recebe a todos nós forasteiros
de outras terras.
Com uma área de 84.212 km2 e aproximadamente 120 mil habitantes,
distribuídos em 28 Vilas e 5 Distritos, ao longo de uma malha de cerca de
8.000 km de estradas vicinais, São Félix do Xingu é o segundo município
mais distante da Capital, tendo que se percorrer por longos 1.147 km até
Belém do Pará.
Enveredando pelos fatos históricos, Senhores, e partindo do período
colonial, antes da chegada do homem branco e até mesmo antes dos povos
Kaiapós, viviam nesta região outras nações indígenas, como os Jurunas, os
Araras, os Penas e os Xipaias.
As primeiras penetrações de brancos na região do Xingu foram feitas pelos
padres jesuítas, que estabeleceram várias aldeias ao longo das margens
direita e esquerda do Rio Xingu, durante os séculos XVII e XVIII.
Fora somente no final do século XIX que chegaram no Alto Xingu os primeiros
exploradores de borracha, partindo de Altamira e vindo de barcos tocados a
batelões, em viagens que demoravam aproximadamente 3 meses, pelo menos.
Uma das primeiras expedições fora registrada em 1892, quando em um dia
chuvoso de 1º de Novembro, um grupo de 22 nordestinos, Mestre Lineu,
chefiados por Manoel Ferreira dos Anjos, chegaram até a praia de “Todos
os Santos”, no Rio Fresco.
A mola, meus amigos, que impulsionou a habitação na região foi a borracha,
pelo grande poderio de extração às margens dos Rios Xingu e Fresco, pois o
produto era de grande procura, em função do alto preço do mercado externo.
No começo do século XIX, chegou na região do Xingu, na jusante do Rio
Fresco, o Coronel da Guarda Nacional Tancredo Martins Jorge que, em pouco
tempo, se tornou o patrão do comércio da borracha no alto Xingu, chegando
a controlar sob o seu rígido comando aproximadamente 2.000 trabalhadores,
que, durante o período do inverno, chegavam a carregar cerca de 40
embarcações mês, com capacidade de 10 a 15 toneladas, cada uma, de borracha.
Em 1914 os seringalistas se estabeleceram na margem esquerda do Rio Xingu,
na confluência com o Rio Fresco, e a localidade passou a ser conhecida pelo
nome de São Félix da Boca do Rio, em uma referência ao Rio Fresco sendo
embocado pelo Rio Xingu.
Com a forte queda do preço da borracha ocorrida por volta de 1915 e anos
seguintes, deu-se espaço a outras atividades, como a exploração de castanhado-brasil,
tendo o seu comércio monopolizado pelo também capitão da guarda
nacional, Basílio Alves de Lima, isso entre os anos de 1928 a 1940.
Com o estouro da Segunda Guerra Mundial em 1939 e com o fechamento do
comércio da borracha com os países da Ásia, novo ciclo da borracha se forma
no Alto Xingu, sendo agora financiado por capital norte-americano e criando-se
no Brasil o “Banco da Borracha”, hoje “Banco da Amazônia”; época em
que o Governo brasileiro cria a campanha dos “SOLDADOS DA BORRACHA”,
chegando no Xingu, gente de toda parte, sobretudo do nordeste e do sudeste,
aumentando grandemente a população de nossa região.
Com o fim da Segunda Grande Guerra e o novo declínio do comércio da borracha,
surge o comércio de peles de animais, como onças, gatos, ariranhas e
jacarés. Foi um tempo de excelentes negócios e que rendeu muito dinheiro,
mas que restou-nos uma dívida enorme em função da devastação da fauna.
Felizmente o comércio foi abolido legalmente em 1970, mas de forma
clandestina perdura até os dias atuais.
No começo dos anos 70 foram feitas várias pesquisas minerais na região do
Xingu. Constatou-se aqui a presença de uma grande variedade de minérios
como ouro, prata, chumbo, estanho, zinco, diamantes, ferro, manganês, cobre,
níquel, wolframita e cassiterita. Nova corrida ao Xingu se forma: agora de
garimpeiros a explorar principalmente o ouro e a cassiterita. Começa ai a
poluição das nossas águas, sendo emblemático o caso do rio Fresco, antes
caracterizado pelas águas cristalinas, hoje contaminado por grande
quantidade de mercúrio e outros materiais pesados.
Outro elemento que atraiu os investidores e nova investida foi a presença
de uma grande quantidade de madeira de lei em todo o município,
especialmente o mogno, chegando em terras xinguenses madeireiros de todas
as partes do Brasil.
Em meio a tantos e importantes acontecimentos não poderíamos deixar de
destacar a inauguração da Igreja Matriz de São Félix do Xingu em 1938, que
enaltece e embeleza a parte histórica de nossa cidade; a criação do
município de São Félix do Xingu também é um importante marco, em 1961,
através da Lei 2460 e com o desmembramento das terras do município de
Altamira; nosso primeiro Prefeito nomeado foi Antônio Marques Ribeiro,
conduzido ao cargo pelo então governador Aurélio do Carmo, que assinou a
Lei, era também esposo da professora Deusina Ribeiro Coelho, que dá nome a
uma das nossas principais escolas municipais; as primeiras eleições em 1962,
que elegeram Francisco Sales Bessa e seu vice-prefeito Orzeu Jonas Guido
também merece ser lembrada; outro marco de destaque é a inauguração da
rodovia estadual PA-279, que liga Xinguara a São Félix do Xingu e que
permitiu a ligação destas terras com o restante do território nacional,
trazendo consigo um grande fluxo de pessoas para a região, permitindo assim
à indústria madeireira e à agropecuária se firmar como o grande motor
econômico do município.
Nesse particular vale destacar, Mestre Pedro, recente pesquisa realizada
pelo IBGE, divulgada em janeiro último, na qual coloca o município de São
Félix do Xingu, Mauro Martins, como o maior produtor de bovinos do Brasil,
com o impressionante número de 2.222.949 animais.
Em 2011, Mestre Edilson... Mestre Pascoal, São Félix do Xingu participou
ativamente da consulta plebiscitária que definiu sobre a divisão do Estado
do Pará, obtendo votação expressiva acima de 90% de aprovação pela criação
do estado do Carajás. Mesmo com a derrota na votação, o município continua,
juntamente com a região, a pleitear a separação para criação do estado do
Carajás.
Nesse contexto histórico, em meio às oportunidades apresentadas ao homem
médio ao longo dos anos e às mudanças sociais ocorridas através do
desenvolvimento das pessoas e das atividades econômicas de cada época,
surge, há 25 anos atrás, em 06 de junho de 1992, um grupo de homens, livres
das amarras políticas e sociais da época, praticantes das boas condutas
sociais, esperançosos por uma sociedade mais justa e igualitária, imbuídos
do espírito de solidariedade e fraternidade, e capitaneados pelo nosso Pedro
Rodrigues Vieira, instalaram a Augusta e Respeitável Loja Simbólica Estrela
do Xingu nº 69. Foram momentos difíceis e ao mesmo tempo prazerosos, e hoje,
nesta Cerimônia, lembrados por todos nós com muita alegria.
Obrigado à Ordem Maçônica e à instituição Estrela do Xingu, por receber a
todos nós maçons em seu ventre e nos chamar de filhos, ao passo em que a
parabenizamos pelos seus 25 anos de belas histórias contadas. Roguemos ao
G.’.A’.D.’.U.’., Mestre Reis, que permita vir o aniversário de 30...
de 40... de 50 anos... e que em seu curso daqui até lá, passamos receber
em nossas fileiras outros Pedrinho’s, outros Nilton’s, outros Araguaçu’s
ou outros Silvino’s, e o mais importante, com as mesmas referências e as
mesmas qualidades que os atuais 29 membros da Estrela do Xingu nº 69, as
possuem.
Viva São Félix do Xingu! Viva São Félix da Boca do Rio!
Viva a Estrela do Xingu nº 69! E que venham os próximos 25 anos!
São Félix do Xingu – PA, 09 de junho de 2017.
Augusto Cézar Silva Costa
M.’.M.’. Cad. GLEPA 10728
Loja Maçônica Estrela do Xingu nº 69
FONTES DE PESQUISA:
Entrevistas direcionadas com munícipes, maçons, políticos e professores de São
Félix do Xingu, 2017.
https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/pa/sao-felix-do-xingu/panorama. 07 de junho
de 2017, 15:07h.
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_F%C3%A9lix_do_Xingu. 07 de junho de 2017,
14:35h.
Nunes, Wilson. Memórias do Xingu / Wilson Nunes. Belém: Gráfica Universitária
UFPa., 2006.
Nunes, Wilson da Silva, 1929. Conversando com o Xingu / Wilson da Silva Nunes.
Belém: Unigraf, 1998.
Passos, José Davi. São Félix do Xingu: Uma história de vai e vem. 1938 – 1988: 50
anos. Paróquia São Félix do Xingu, 1988.
Santana, Luiz Ferreira. São Félix do Xingu e sua História. 1889 – 1997. São Félix
do Xingu, 1997.