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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Luz! Mais luz!!!" - dizia Goethe antes de morrer. Mas morreu assim mesmo.

Últimas palavras pronunciadas às portas da morte
jornal Turma da Barra


*Professor Luiz Carlos


Procuramos algo de significativo nas últimas palavras das pessoas: a síntese de uma existência, um modo de dar ênfase àquela dimensão misteriosa que engloba este mundo e também o vindouro. Algumas mensagens são profundamente tristes, outras hilariantes, mas quer sejam proferidas por um santo ou pecador, por um monarca ou um súdito, um douto ou um inculto, identificamos nas derradeiras palavras um elemento comum: a irrevocabilidade. Eis aqui uma pequena pincelada sobre as últimas palavras proferidas por alguns famosos...e por alguns infames. Escritas em letras que valem ouro e guardadas em escrínios preciosos. Vejamos a veracidade ou não destas preciosidades.
O mártir John Rogers, queimado como herege em 1555, disse: ´´Senhor Jesus, recebe o meu espírito”.
John Holmes, tio de Oliver Wendell Holmes(médico e escritor norte-americano),jazia em seu leito de morte quando uma enfermeira enfiou a mão por baixo dos lençóis para medir a temperatura dos pés. Surpresa, murmurou:´´ninguém jamais morreu com os pés quentes.” Ao ouvir isto, Holmes abriu os olhos e exclamou sua marca:´´John Rogers morreu.”
Últimas palavras.
"Maman!” Assim gritou Anatole France diante da inexorável finitude; o mesmo fez Nijinsky:´´Mamasha!” Já Gustav Mahler evocou suavemente:´´Mozart!”
Willian Shakespeare, tinha um profundo respeito pelas últimas palavras empregadas pelos vivos. Em Ricardo II, o duque de Lancaster, moribundo, diz ao duque de York:

´´Oh, mas dizem que as palavras
dos agonizantes
Impõem atenção como as
Harmonias profundas:
Quando as palavras são poucas
Raramente se perdem em vão
Pois exalam verdades aqueles que
Exalam suas palavras na dor.”

Obviamente, as últimas palavras das pessoas devam ser analisadas com certa reserva, uma vez que os falecidos não estarão presentes no momento de confirmar ou não suas citações finais.Além disso, os vivos, por inúmeros motivos, podem adulterar a verdade.
As mais fáceis de serem averiguadas são as proferidas pelos que estão próximos da execução.
Sir Thomas More, autor de Utopia, um dos livros que mais influenciou a filosofia e a tradição literária ocidentais, pediu educadamente ao seu carrasco que esperasse até ele afastar a barba para um lado, dizendo:´´esta não ofendeu o rei.”Sir Walter Raleigh, sentindo a proximidade da lâmina do machado, comentou:´´este é um remédio fulminante, mais seguro contra todos os males.”
William Palmer, que matou um amigo com veneno, quando pisou no alçapão do cadafalso prguntou:´´vocês têm certeza de que está firme?” Já o revolucionário russo Michael Bestujev-Ryumim mostrou-se menos brincalhão quando a corda, na primeira tentativa de enforcá-lo, rompeu-se:´´nada dá certo comigo. Até mesmo aqui me deparo com decepções.”
´´Monsieur, queira desculpar-me”, disse Maria Antonieta, esposa de Luis XVI, famosa pela sua imprudência e resistência à Revolução Francesa, ao seu carrasco depois de lhe pisar no pé...introduzindo uma nova interpretação ao conceito de civilidade.
Entre os filósofos, alguns viveram em grandes dificuldades. O autor de Fenomenologia do Espírito,o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel lamentava:´´só um homem poderia me compreender na vida...e ele não me entendeu”; já o filósofo e cientista francês Pierre Gassendi, que na sua obra Syntagma Philosophicum rejeitou a superespeculação na filosofia de Descartes e defendeu o retorno à doutrina de Epicuro, exclamava perplexo:´´nasci sem saber por quê, tenho vivido sem saber por quê e estou morrendo sem saber por quê nem como.” O furacão Friedrich Nietzsche que, além de filósofo, declarava-se psicólogo e poeta, na livro Terceiro de A gaia ciência, o ´´Insensato”procura Deus.E pergunta:´´Aonde foi Deus?”. E declara:´´Nós o matamos, vocês e ´´eu”...Deus está morto”, em seu leito de morte após onze anos na demência, o ´´ateu” proclama:´´se realmente existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens.”
As últimas palavras de Jesus Cristo, citação segundo o evangelista São Lucas,´´Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”(Lc 23,46), ao longo da História, foram repetidas por milhares de homens e mulheres em seus leitos de morte.
Alguns, porém, mostraram-se impertinentes e reticentes. O pintor Perugino não aceitou receber o sacerdote para o viático:´´estou curioso para ver o que acontece no outro mundo àquele que morre sem se confessar”. Henrich Heine, o grande zombador, que posteriormente se arrependeu, considerava irrelevante:´´Deus vai me perdoar...é a especialidade dele.”
Muitos manifestaram um sentimento de desprezo pela dimensão espiritual, permanecendo reticentes até o fim. Assim fez o gramático Dominique Bouhours:´´estou em vias de, ou estou morrendo-emprega-se qualquer das duas expressões.
G.K. Chesterton teve que enfrentar uma decisão:´´a questão agora se esclareceu. É entre a luz e a escuridão e todos precisam resolver de que lado estão.”
Goethe fez esta escolha de forma enfática:´´Mais luz! Mais luz!” Carl Jung dirigiu-se ao filho desta maneira:´´depressa, ajude-me a sair da cama. Quero ver o crepúsculo.” De forma totalmente antagônica disse Theodore Roosevelt:´´por favor, apague a luz.”
Um número considerável enfrentou a morte com serenidade de espírito. ´´Esta é a minha despedida da Terra. Estou satisfeito”, disse John Quincy Adams. Thomas Edison, contemplando a paisagem bucólica de sua janela, fez o seguinte comentário:´´aquele lugar é muito belo.”
Oportuno também perceber que algumas pessoas vivem até o último momento preocupadas com a responsabilidade. Sócrates estava morrendo envenenado quando, de repente, levantou a cabeça e disse:´´Crito, fiquei devendo um galo a Asclépio; você se lembra de pagar essa dívida?”
O imperador romano Tito Flávio Vespasiano preferiu morrer de pé:´´um imperador deve morrer de pé.” O mesmo aconteceu com o rei francês Luis XVIII:´´um rei deve morrer de pé.”
Para outros a morte é uma interrupção inesperada. Lord Palmerston, estadista inglês, ao ser informado sobre a gravidade de sua situação, respondeu de forma arrogante:´´morrer, meu caro doutor! É a última coisa que tenciono fazer!”O general francês Henri, visconde de Turenne, na batalha de Sasbach, travada em 1675, gritou enfaticamente ´´não pretendo ser morto hoje!” segundos antes de ser atingido fatalmente por um projétil de canhão.
Várias esposas foram endereços freqüentes de últimas palavras. O presidente James Polk sussurrou:´´eu te amo, Sarah, eu te amo.” As últimas palavras do famoso general francês Napoleão Bonaparte são um tributo ao poder de uma mulher:´´França...Exército...Comandante do Exército...Josefina.”
A protetora do filósofo francês Voltaire, a condessa de Fontaine-Martel, manifestou pensamentos mundanos:´´louvados seja Deus! Qualquer que seja o momento, em algum lugar há um encontro de amantes.”
Últimas palavras.
Talvez quem tenha se expressado da melhor maneira foi o eloqüente Henry Ward Beecher, clérigo norte-americano, que em seu leito de morte simplesmente disse:´´agora vem o mistério.”

*Luiz Carlos Rodrigues da Silva é professor, filósofo e historiador, 46, mora em Barra do Corda e é membro da ABC (Arcádia Barra-Cordense)

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