A seleção do candidato
obedece a alguns requisitos, devendo ser uma pessoa que faz parte da sociedade,
simples, honesta, crendo em Deus e numa vida futura e que tenha inclinação para
o “agrupamento” e com recursos financeiros para atender os compromissos da
Instituição. No entanto, existem mais duas condições essenciais: “ser livre e
de bons costumes”. Hoje, pelo menos entre nós, o conceito de liberdade passa a
ser simples, e o de bons costumes, diz respeito a um comportamento normal. Contudo,
essa “simplicidade”, apresenta aspectos relevantes que para o Maçom, são
essenciais. No passado, e não muito distante, o escravo não podia fazer parte
da Ordem Maçônica e, por esse motivo, o conceito de “liberdade” revestia-se de
simplicidade: bastava não ser escravo. Abolida a escravidão, esse conceito
simples foi revisto, surgindo, então a parte esotérica. A escravidão trouxe sequelas
amargas e mesmo depois da abolição da escravatura, no Brasil, o antigo escravo,
agora livre, continuava “negro” e marginalizado, sujeito ao mais odioso
preconceito; e fazendo parte desse preconceito, o negro não era recebido na
Maçonaria. Nas últimas décadas, no Brasil, esse preconceito foi superado; hoje,
os homens de “cor” têm ingresso na Ordem e fazem parte da Arte Real; lamentavelmente,
nos Estados Unidos da América do Norte, a Maçonaria negra é uma Instituição à
parte; não há confraternização e cada “cor” tem as suas Lojas exclusivas e os
seus Corpos Filosóficos “fechados”; apenas são toleradas as “visitas” chegadas
de outros países. Assim, não podemos entender que a “liberdade” possa ser,
exclusivamente, o direito de alguém ser livre, um cidadão com as mesmas
garantias constitucionais dos demais. No Brasil, todos os cidadãos são livres. Em
consequência, a “condição” do candidato de ser “livre” já não desperta qualquer
interesse. É evidente que o conceito de liberdade é muito mais amplo que o
direito de ir e vir. Da mesma forma, ser de “bons costumes” não significa o
comportamento dentro de certos padrões ordenados pela sociedade. O “bom
costume”, prima facie, se entenderia
como aquele que demonstra “bom comportamento social”, porque pretende ingressar
em uma Instituição Fraternal, como é a Maçonaria. “Bom costume” e “moral”,
aqui, seriam sinônimos. Portanto, a condição de um “profano” ser considerado
“livre e de bons costumes” não reflete o sentido lato da frase. Logo, cumpre
encontrarmos a definição mais ampla, mais vertical e mais esotérica. Ser
“livre” é possuir a faculdade, e também o dom, de sentir-se liberto, com uma
amplitude universal. Nós, quando permanecemos na horizontalidade profana,
sufocamos o “instinto” de liberdade. O “ser livre” Não é privilégio algum;
apenas, o anseio de buscarmos o “primeiro passo” do caminho. Ser livre não
significa romper as cadeias da tradição, do sistema social, da conjuntura
familiar; ser livre significa trilhar um caminho de satisfações puras, sadias, que
possa conduzir a uma meta realista: a felicidade. Ninguém poderá considerar-se
livre, se infeliz. A liberdade dá tranquilidade e paz de espírito. Liberdade
não é acomodação. Não se pode confundir as coisas. “Ser livre”, no conceito
maçônico, é possuir o pensamento flutuante, pronto a aceitar o que é bom e
satisfatório, sem depender até de uma análise profunda. O pensamento livre,
rápido e instantâneo. A filosofia maçônica é a plenitude de uma vivência
correta e feliz, mas de difícil alcance, porque os seus adeptos não vêm sendo
selecionados com rigor; já não são convidados os homens “livres”, mas o são
somente aqueles que têm uma conduta normal. É a horizontalidade da liberdade,
quando há necessidade de uma liberdade vertical. “Ser livre” é a possibilidade
de dispor de ânimo para receber o Irmão Maçom, com fraternidade. Pelo menos,
com o primeiro impulso de concordância. O retoque para a conquista plena será
dado posteriormente; através do convívio salutar, da experiência e do cultivo. A
fraternidade é algo que deve ser conquistado; ninguém poderá impor a alguém,
que ame a seu Irmão de ideal! Seria atentar contra o conceito de liberdade que
a Maçonaria proclama. Essa proclamação não constitui o “sigilo maçônico”,
porque quando o proponente contata o proposto, lhe fará a pergunta: “Sois livre
e de bons costumes?”. Não basta a simples resposta afirmativa, porque os
conceitos usuais sobre a liberdade e moral são muito acanhados e primários. Compete
ao proponente pesquisar sobre essas condições, as quais, poderíamos dizer,
seriam inatas do candidato. Ninguém, isoladamente e de forma individual, poderá
“formar” um candidato e adaptá-lo às exigências maçônicas. Um candidato visado
poderá ser instruído a ponto de se tornar apto ao ingresso na Ordem Maçônica. A
Maçonaria precisa encontrar para propor, alguém que seja “livre e de bons costumes”,
porque será um “predestinado”. É por este motivo que os Maçons são em número
limitado; uma Instituição milenar tem poucos “prosélitos”, justamente porque é
muito difícil encontrar um candidato “ideal”. Felizmente a humanidade não é tão
dissoluta a ponto de não possuir elementos aceitáveis para a Maçonaria. Podemos
adiantar que são milhões de homens dignos, mas a grande dificuldade é que nós
não os encontramos e às vezes, estão ao nosso lado e dentro de nossa própria
família. Aqui deveria funcionar a “terceira visão”. Logo, um proponente deve
estar apto a “enxergar” no candidato em potencial, o elemento justo e perfeito
para vir a ser mais um Irmão. Seria muito penoso respondermos a provável
pergunta: e os maus Maçons? Realmente, por não ter havido uma seleção correta;
existem os maus Maçons; talvez não devêssemos exagerar e nos expressar melhor:
existem dentro das Lojas Maçônicas elementos que não eram ao serem propostos,
“livres e de bons costumes”, e que se tomaram “pomo de discórdia”, mas, nada
podemos fazer, senão usar de melhor arma que a Maçonaria nos proporciona, para
com esses, a tolerância! A esperança
de que, algum dia, possam ser instruídos e que se ajustem, o que seria, para a
Instituição, um beneficio, mas para esses elementos, uma grande conquista! Para
que alguém se possa considerar “livre” ou que os outros o possam assim admitir,
faz-se necessário o toque espiritual. A aproximação de Deus - pois para o
profano, a expressão da espiritualidade é Deus, enquanto para o Maçom é o
Grande Arquiteto do Universo, quem busca a Deus o fará por desejo, por impulso
ou por necessidade, mas será sempre a Grande Busca. Aqui não entra qualquer
conceito de religião; apenas o comportamento natural entre o homem e o seu
Criador. O conceito pleno de liberdade admite certa dose de misticismo. “Ser
livre”, portanto, passa a constituir um “dom espiritual”, que pode ser inato ou
cultivado. Se alguém se aproximar a um Maçom e lhe disser que deseja ingressar
na Ordem Maçônica e como resposta ficar ciente de que a condição primeira será
a de ser “livre e de bons costumes” e, em não o sendo, busque a maneira de
conquistar a “liberdade”, poderá perfeitamente, despir-se de todos os entraves
e aperfeiçoar-se para se “sentir livre”, dentro dos conceitos acima expendidos
e, assim, habilitar-se ao ingresso na Instituição Maçônica. De forma que, o
homem pode se “reconstruir” num trabalho de autorrealização! Excluído o
ingresso na Maçonaria, o “ser livre” gratifica o homem, porque se tornará
receptivo a compreensão do mistério da Vida e da Morte, princípio e fim da existência
humana e princípio da existência espiritual. Dentro da Sociedade moderna é
permanente a reunião desses “homens livres”, esperança derradeira para o mundo
melhor que todos querem e de que a humanidade necessita. O homem que realmente
é “livre” não alardeia essa condição privilegiada; mas como a luz não pode se
esconder, muitos podem perceber essa condição e, evidentemente, haverá uma aproximação
instintiva, no caso da pessoa tomar a iniciativa, que constituirá parte da
“busca”. A parte profundamente mística reside no fato de que o Maçom é um
“pedreiro livre” – free mason - sua
tarefa precípua é “construir”, “em si”, o próprio Templo. Templo que tem uma
destinação: o culto à Divindade; o aperfeiçoamento da parcela isolada para a
construção da “Grande Catedral”, que é a humanidade e o conhecimento do “para
onde iremos”, ou seja, a Vida Futura. Esse ponto básico, nada mais é que a
“viabilidade desse “encontro”; a busca nem sempre é definida e muito menos
definitiva. A “Grande Busca” será sempre a compreensão de que pode haver uma
fusão entre criatura e Criador. Geralmente, o Maçom não é religioso no sentido
de ser um praticante; em face disso, para satisfazer o anseio de sua alma, está
constantemente buscando encontrar a tranquilidade que sua esposa demonstra,
quando retoma de sua missa ou culto. Essa ansiedade nos vem do “bom costume”
que trazemos do mundo profano, porque é comum a todos. Ser “livre e de bons
costumes” não são duas atitudes separadas, mas uma complementação inseparável;
ninguém poderá ser livre se não tiver bons costumes e ninguém terá bons
costumes se não for livre. Portanto, a condição para um profano ser proposto
para a Iniciação Maçônica há de ser o acima exposto, através de uma análise
séria e completa, sem vacilações ou protecionismos, porque o ingresso de um só
elemento desajustado põe em risco toda a Instituição.
Fonte: Aprendizado
maçônico – Da Camino, Rizzardo.
JOSÉ ARAGUAÇU – M.`.
M.`. ARLS ESTRELA DO XINGU Nº. 69
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